“O mundo é uma aldeia global”, disse o sociólogo canadense Herbert Marshall McLuhan em uma de suas obras, ‘A Galáxia de Gutenberg’, de 1962. Já naquela época ele começou a esboçar a ideia do que se transformaria a sociedade com o avanço tecnológico dos meios de comunicação de massa.
Ele acreditava, e na verdade ele estava certo, que um dia os aparelhos eletrônicos seriam responsáveis por encurtar as distâncias entre as pessoas fazendo com que o planeta tivesse a impressão de que, a partir desta conexão, estaria vivendo em uma grande aldeia, a ‘aldeia global’.
Desde as já consideradas ‘pré-históricas’ salas de bate-papo, passando pelo barulho inconfundível do extinto ICQ, pela tela piscando do MSN, as comunidades no inativo Orkut até os aplicativos de relacionamento mais conhecidos atualmente, em algum momento a maioria das pessoas já teve ou tentou ter um relacionamento virtual, seja ele de amor ou de amizade.
A rapidez com que as coisas acontecem favoreceu muito este tipo de comunicação. Porém trouxe à tona também o quão frágil pode ser a nossa segurança, haja vista a quantidade enorme de golpes aplicados a partir destas relações.
Na opinião do psicólogo Marcos Martinelli, ninguém está livre de se relacionar através da internet. “Não existe um padrão que vai determinar quem procura mais este tipo de envolvimento virtual porque hoje em dia todos nós estamos conectados. A qualquer momento posso baixar um aplicativo e ‘encontrar’ alguém”.
Mesmo assim ele acredita que as pessoas que são mais tímidas e introvertidas costumam preferir este tipo de ‘aproximação’ através de aplicativos. “A internet permitiu que as fantasias e desejos fossem exteriorizados sem sentimento de culpa ou julgamento alheio. Para os relacionamentos amorosos é ainda mais fácil porque você consegue traçar exatamente o perfil desejado ou procura pretendentes que mais te atraiam.
Para Martinelli o contexto no qual estamos inseridos há dois anos, isto é, em meio a uma pandemia e ao isolamento social, favoreceu muito o aumento deste tipo de relação, todavia contribuiu muito também para que muitos relacionamentos chegassem ao fim. “Foi uma situação totalmente atípica nas nossas vidas, muitas coisas novas aconteceram e o aumento dos laços virtuais foi prova disso.
Isso não vale somente para relações amorosas, mas também para as amizades e até com colegas de trabalho”. Ele diz ainda que todos passaram a buscar coisas novas na internet, uma vez que o tempo ocioso aumentou e a grande rede era o recurso mais próximo para conhecer pessoas. “Hoje já é possível ouvir relatos de quem apenas acessou ou ainda acessa estes aplicativos de relacionamento só para conversar, sem a necessidade deste bate papo evoluir para um relacionamento amoroso”.
O psicólogo explica que este cenário pode permanecer o mesmo ainda que estejamos em um período de flexibilização das medidas de combate ao coronavírus. “Há quem tenha se acomodado nesta forma de relacionamento pois ela é bem mais ‘fácil’ e permaneça online. Em contrapartida haverá aqueles que vão preferir voltar para o flerte presencial, à moda antiga”.